Fim da hora do recreio: “School of Rock” se despede da Broadway

Após três anos, o musical de Andrew Lloyd Webber se despede da Broadway.

Por Madson Melo

Quem associa o compositor Andrew Lloyd Webber aos seus mega hits do teatro musical como “Cats”, “Evita” e “O Fantasma da Ópera”, nem imagina que após “Sunset Boulevard” (de 1994), o compositor passou por um vasto período de fracassos em New York. Dois musicais novos (“By Jeeves” e “The Woman in White”) foram dos maiores fracassos de sua carreira, e até mesmo novas produções de musicais consagrados como “Jesus Cristo Superstar” (por duas vezes) e “Evita” não foram capazes de captar o olhar das pessoas de volta ao mundo de Webber.

O que ninguém esperava é que seria a adaptação de um filme chamado “Escola de Rock” (aquele estrelado por Jack Black e que frequentemente está na Sessão da Tarde) que faria, após duas décadas problemáticas, os palcos da Broadway voltarem a sorrir para o compositor. E não só lá, hoje o musical tem produções em Londres, na Austrália e uma turnê ao redor dos Estados Unidos e inclusive chegará ao Brasil no segundo semestre desse ano.

Baseado no filme de 2003, “School of Rock” mostra como Dewey, um cara que na casa dos 30 e poucos anos ainda deseja se tornar uma estrela do rock e aproveita uma chance que surge na sua vida para poder pagar o aluguel de onde ele está quase sendo despejado – a casa de seu melhor amigo. Ah, e essa chance envolve assumir a identidade do amigo, que é convidado para ser professor substituto em uma prestigiosa escola de alto rendimento, sem que ele saiba. Pois é, agora imagina as loucuras que essa história acaba tendo, já que a turma de alunos é formada por crianças que, individualmente, têm problemas que vão de um pai ausente até vergonha compulsiva. É uma confusão que foi orquestrada para o teatro através das melodias de Lloyd Webber, as letras de Glenn Slater e o libreto de Julian Fellowes (criador da série “Downton Abbey”).

O musical estreou na Broadway no dia 6 de dezembro de 2015 no Winter Garden Theater (mesmo teatro que foi a casa de “Cats” por 18 anos!) e o motivo pelo qual você está lendo esse texto é que hoje (20 de janeiro de 2019) ocorrerão as duas últimas performances do mesmo por lá após mais de três anos em cartaz, em um total de 1.307 apresentações ao todo. Incrível, né?

O projeto merece aplausos só por ter estreado na mesma temporada de “Hamilton” e ter conseguido sobreviver, achar um público, pagar toda a sua capitalização de recursos e virar realmente uma produção lucrativa, mas, além disso, ele foi responsável por revelar aos palcos da Broadway o estupendo Alex Brightman (indicado ao Tony de Melhor Ator por originar o Dewey) e colocar no palco tantas crianças talentosas cantando, dançando e tocando instrumentos (!) oito vezes por semana.

A experiência de assistir a “School of Rock” na Broadway foi, sem dúvidas, uma das maiores surpresas da minha última viagem a Nova York. É realmente incrível ver um protagonista fora dos padrões esperados no palco, e a trilha, realmente pop/rock e fugindo bem do estilo do Webber e da Broadway em si, tem momentos incríveis (como “When I Climb to the Top of the Mount Rock” e “Stick to the Man”), mas o que realmente encanta é como aquelas crianças, tão sensacionais em diversos aspectos, conseguem ser a alma de uma história que fala, primariamente, sobre acreditar em seus sonhos e nunca desistir deles, mesmo quando parece que os mesmos nunca se tornarão realidade. Afinal, sonhar e lutar pelos seus objetivos não deveria ter idade, apenas a paixão necessária para continuar na luta por eles. E essa mensagem, ao lado de uma produção muito linda, é o que fica daquela incrível sessão que tive a oportunidade de presenciar.

Agora só resta agradecer por esses anos todos que o musical ficou na Broadway, desejar muito sucesso para os próximos projetos de todos os envolvidos e esperar o segundo semestre para conferir a versão brasileira, produzida pelo Atelier de Cultura, sinônimo de qualidade e sucesso. Vemos-nos no Teatro Santander, certo? And yes, you’re in the band!

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