A nova produção do Atelier de Cultura abriu as portas (e os céus) ao público de São Paulo em 07 de julho. Venha descobrir tudo sobre “Evita Open Air”, uma nova versão do clássico musical de Tim Rice e Andrew Lloyd Webber apresentada ao ar livre.
Nas semanas após o falecimento de Eva Perón, mais conhecida pelo apelido Evita, então primeira-dama argentina, mais de três milhões de pessoas se reuniram nas ruas de Buenos Aires para lamentar a partida da Santa Evita. E é justamente com o anúncio de seu falecimento, em 26 de julho de 1952, que a história começa.
Introduzindo Che (que não necessariamente representa Che Guevara, embora essa tenha sido uma referência de Hal Price ao dirigir a produção original) como narrador, o espetáculo atravessa o período de luto do público argentino e retorna à juventude de Eva Duarte, sua chegada a Buenos Aires ao lado do cantor de tango Agustín Magaldi (um pequeno floreio histórico: não há qualquer registro de que Magaldi tenha se apresentado em Junín, cidade onde Eva viveu na adolescência, na época em que ela se mudou para Buenos Aires; as irmãs sempre mantiveram a versão de que ela foi levada pela mãe à capital, na esperança de se tornar atriz de rádio) e sua ascensão como modelo, estrela do rádio e atriz.

Logo após se casar com Juan Perón, Evita é alçada a primeira-dama com a eleição esmagadora de Perón, visita diversos países, inaugura a Fundação Eva Perón para seu trabalho de caridade e até mesmo concorre para a vice-presidência antes que o musical retorne ao seu ponto de partida.

Concorde ou discorde dos ideais peronistas, o fato é que a mulher e seu mito foram o suficiente para inspirar dezenas de livros, filmes, peças e musicais, incluindo os britânicos Tim Rice e Andrew Lloyd Webber.

AS ORIGENS
Ainda fresco do sucesso de “Jesus Christ Superstar” (também realizado em parceria com Andrew Lloyd Webber), que havia estreado em 1971 na Broadway e em 1972 em Londres, Tim Rice, se deparou, em uma noite qualquer de 1973, com o final de um programa de rádio sobre Eva Perón. O letrista desconhecia sua importância política, mas se recordava de sua imagem em selos postais argentinos, que ele colecionava quando criança.

A memória e as poucas informações obtidas foram início de uma pesquisa que o levou ao encontro do argentino Carlos Pasini Hansen, que havia dirigido um documentário sobre a vida de Evita para a TV britânica, “Queen of Hearts”. Numa época onde nem mesmo o VHS era comum, Rice foi convidado a assistir o documentário em uma filial da TV local, um convite da qual ele teria se aproveitado, segundo as próprias palavras “pelo menos vinte vezes. Fui completamente fisgado depois de assistir o filme”.
O interesse o levou até mesmo a Buenos Aires, pesquisando documentos originais e fontes arranjadas por Carlos Pasini Hansen. A fascinação dele por Eva Perón crescia cada vez mais e contar sua história parecia questão de tempo, e até mesmo a primogênita do letrista foi batizada em homenagem a Eva.
Tim Rice, então, propôs transformar a história de Eva Perón em musical a Andrew Lloyd Webber. Apesar de se mostrar interessado em compor com ritmos tradicionais argentinos, o compositor rejeitou a ideia (ele não queria “fazer outra peça sobre um desconhecido que ascende à fama aos 33 anos e morre”) e passou a trabalhar em “By Jeeves” (uma ideia original de Rice, mas que foi descartada pelo letrista e completada com Alan Ayckbourn). “By Jeeves” estreou em 1975 em Londres, se tornando um fracasso colossal de público e crítica, ficando em cartaz por apenas um mês (o espetáculo, no entanto, empresta uma melodia para “Evita”: “Summer Day” se tornou “Another Suitcase in Another Hall”).
Andrew Lloyd Webber, então, retomou a biografia musical com Tim Rice. A ideia era seguir os mesmos passos de “Jesus Christ Superstar” e “Joseph and Amazing Technicolor Dreamcoat”: gravar um álbum-conceito e, caso tudo desse certo, levar o musical aos palcos.
Antes da gravação, as composições foram apresentadas no Sydmonton Festival, apresentação de Andrew Lloyd Webber em sua casa de campo para convidados. Junto com a trilha, os espectadores assistiram slides da vida de Eva Perón e aprovaram o trabalho.
Julie Covington, escolhida para fazer a voz de Evita no álbum, teve que voltar às pressas para regravar uma das primeiras canções produzidas: todos contavam com o sucesso de “It’s Only Your Lover Returning” (É Apenas Sua Amante Retornando, em tradução literal) nas paradas para que houvesse interesse em uma produção teatral. A canção era boa, mas o mote não chamava muita atenção, e a dupla não conseguia concordar em outro título. Foi então que Tim Rice sugeriu um trecho de outra canção (e advinda de uma placa localizada no túmulo de Eva): “Don’t Cry For Me Argentina”, se tornou, então, a clássica letra cantada no varanda da Casa Rosada.
A gravação contou ainda com Paul Jones como Juan Perón, um jovem Colm Wilkinson (que arrebataria o West End como Jean Valjean na produção original de “Les Misérables”) e a Orquestra Filarmônica de Londres.
Com o álbum pronto, mas antes de seu lançamento, Andrew Lloyd Webber e Tim Rice viajaram até Majorca para tocar a gravação para Hal Prince (o lendário diretor que anos mais tarde dirigiria “O Fantasma da Ópera”). Um primo da Rainha Elizabeth, Lord Harewood, havia se interessado pelo material e se ofereceu para produzi-lo na Ópera Nacional Inglesa no London Coliseum, mas o par preferiu não optar por um local tão clássico.
Hal Prince escreveu um memorando de três mil palavras, informando que estaria disponível para dirigir o musical em dois anos e detalhando sugestões para a criação, incluindo a de que três diferentes atrizes deveriam interpretar Evita, para revelar aspectos diferentes de sua personagem, além de mudanças que deveriam ser feitas no álbum-conceito. Rice e Webber não recusaram, mas informaram o diretor que estavam pausando a produção teatral até o lançamento do álbum.
Os singles, “Don’t Cry For Me Argentina” e “Another Suitcase in Another Hall”, foram sucessos instantâneos nas paradas e com os críticos e, sete meses após o lançamento do álbum, a dupla estava no escritório de Hal Prince na Broadway para oferecer a direção do projeto, ainda que tivessem ignorado todas as sugestões realizadas pelo diretor e tenham brigado ferozmente sobre trazê-lo de volta ao projeto (Tim Rice se recusou sequer a considerar as sugestões, enquanto Andrew Lloyd Webber foi mais leniente).
O diretor realizou apenas um corte (“The Lady’s Got Potential”) e pediu um número para mostrar a ascensão de Perón (“The Art of the Possible”).
O espetáculo estreou em Londres em 21 de junho de 1978, com Elaine Paige no papel de Evita, David Essex como Che e Joss Ackland como Perón. A reação da crítica foi mista, mas a imprensa adorou o espetáculo. A bilheteria tinha filas desde o primeiro dia de vendas, que aumentavam a cada dia e duraram por mais de dois anos.
A produção, que contou também com a coreografia de Larry Fuller, ficou em cartaz até 18 de fevereiro de 1986. Com 3.176 apresentações, o musical é, até hoje, a 26ª produção a ficar mais tempo em cartaz no West End. O musical recebeu o prêmio de Melhor Musical no Olivier Awards com Elaine Paige recebendo o Olivier de Melhor Performance em um Musical. Além disso, Harold Prince e David Essex foram indicados aos prêmios Olivier de Melhor Diretor e Melhor Performance em um Musical.
O musical voltou aos palcos britânicos em junho de 2006. Com direção de Michael Grandage (de “Frozen”), a produção foi estrelada pela atriz argentina Elena Roger, Matt Rawle como Che e Phillip Quast como Perón. Essa foi a primeira vez que a canção “You Must Love Me”, escrita para a adaptação cinematográfica do musical, foi incluída em uma produção em inglês do espetáculo.
Apesar da recepção positiva pela crítica, a remontagem encerrou as apresentações em 26 de maio de 2007. O espetáculo foi indicado ao Olivier de Produção Musical de Destaque, Melhor Coreógrafo para Rob Ashford, Melhor Atriz e Melhor Ator em um Musical para Phillip Quast e Elena Roger, não levando, no entanto, nenhum prêmio.
Em 2019, Londres ganhou mais uma produção: “Evita Open Air”. Encenada ao ar livre no palco do Regent’s Park Open Air Theatre (local onde já foram apresentadas produções ao ar livre de musicais como “Hello, Dolly!”, “Into the Woods”, “A Noviça Rebelde”, “Little Shop of Horrors” e “Jesus Christ Superstar”).
Dirigida por Jamie Lloyd, a produção contou com Samantha Pauly no papel principal, Trent Saunders como Che e Ektor Rivera como Juan Perón, enquanto Agustín Magaldi foi interpretado por Adam Pearce e Frances Mayli McCann interpretou a amante.
A produção foi indicada ao Olivier Award de melhor revival de um musical, além de Melhor Coreógrafo de Teatro para Fabian Aloise, mas não recebeu nenhum troféu, ficando em cartaz entre os meses de agosto e setembro.
CAMINHO PARA A BROADWAY
Com diversas revisões (eventualmente também aplicadas na produção britânica) que Hal Prince destacou tornar o espetáculo “mais político”, o musical fez apresentações em Los Angeles e São Francisco antes de chegar à Broadway. Conseguindo a quantia, até então inédita, de 2.4 milhões de dólares em pré-vendas, a nova versão estrelava Patti LuPone e Mandy Patinkin e estreou em 25 de setembro de 1979. Os dois receberam o Tony Awards de Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante, além de melhor musical, melhor direção, melhor composição, melhor roteiro e melhor iluminação.
Apesar do sucesso garantido pelo papel e do musical ter garantido seu primeiro Tony (já são 3 e outras 5 indicações), Patti LuPone declararia, anos mais tarde, que “Evita” foi a pior experiência de sua vida. “Estava gritando um papel que só podia ter escrito por um homem que odeia mulheres”, contou ao The New York Times em 2007. “E eu não tinha nenhum apoio da produção. Eles queriam a apresentação de uma estrela no palco mas por trás dele me tratavam como uma ninguém”.
LuPone, que famosamente destruiu seu camarim em Londres ao descobrir que não faria parte da produção da Broadway de “Sunset Boulevard”, fez, aqui, o papel de substituta: Elaine Paige, da produção original britânica, era a escolha inicial dos produtores para levar o papel à Broadway. Paige, no entanto, não conseguiu permissão do sindicato de atores de palco para se apresentar nos Estados Unidos.
A produção original encerrou suas apresentações em 26 de junho de 1983, após 1.567 apresentações, sendo, atualmente, a 54ª maior temporada já realizada na Broadway.
Em 2012, a Broadway recebeu a mesma produção vista em 2006 em Londres, novamente com direção de Michael Grandage e Elena Roger no papel principal. O cantor Ricky Martin foi o responsável por interpretar Che na remontagem, ao lado de Michael Cerveris como Perón.
A produção ficou em cartaz entre 5 de abril de 2012 e 26 de janeiro de 2013, sendo indicada a três Tony Awards: Melhor Remontagem de um Musical, Melhor Atuação por um Ator Coadjuvante em um Musical para Michael Cerveris e Melhor Coreografia para Rob Ashford.
O FILME
De acordo com o diretor Alan Parker, o interesse de transformar “Evita” em um filme surgiu antes mesmo da estreia da versão dos palcos: em seu site oficial, ele conta que imediatamente após ouvir o álbum conceito, procurou o empresário de Tim Rice e Andrew Lloyd Webber para questionar sobre os direitos cinematográficos, mas a dupla estava mais interessada em levar o musical para o West End, o que o levou a abandonar o projeto.
Após alguns anos, o diretor foi convidado para estreia na Broadway e, ali, convidado pelo produtor Robert Stigwood a dirigir o filme. Alegando que não queria dirigir dois musicais em seguida – Parker estava trabalhando em “Fame” na época – Stigwood chegou a levá-lo para viajar de iate para tentar convencê-lo, mas não obteve sucesso.
Após o sucesso das produções em Londres e Nova York, diversos estúdios, incluindo a Warner Bros., a MGM e a Paramount começaram um leilão pelos direitos do filme, que foi vendido para a EMI Films por 7,5 milhões de dólares.
Jon Peters (produtor de filmes como “Nasce uma Estrela” e “A Cor Púrpura”) chegou a conversar com Stigwood sobre o projeto, alegando que conseguiria convencer Barbra Streisand, sua namorada na época, a interpretar o papel – se ele pudesse produzir também o filme. Stigwood recusou a oferta, desejando permanecer como o único produtor do projeto.
Após uma série de prejuízos, a EMI abandonou o filme, que foi adquirido pela Paramount em maio de 1981, com planos de entrar em produção ainda naquele ano.
A direção, ficou então, a cargo de Ken Russell (diretor de “Tommy”). Barbra Streisand (que rejeitou o papel imediatamente após uma única reunião) e Liza Minnelli eram as indicadas para a protagonista, enquanto Barry Gibb e Elton John eram cotados para o papel de Che. A primeira escolha do diretor era Karla DeVito – seu teste de câmera, segundo Kurt, fez todos chorarem – mas após fazer testes com Liza Minnelli, o diretor se convenceu de que uma atriz mais experiente em cinema seria a escolha ideal. Ao tentar convencer os produtores, foi avisado que o papel provavelmente iria para Elaine Paige. Aqui, as narrativas se desencontram: Russell afirma que se demitiu, enquanto matérias da época indicam que ele foi demitido ao dizer que se recusaria a fazer o filme sem Liza Minnelli.
Enquanto a produção procurava locações no México, Herbert Ross (diretor de “Funny Girl”) foi convidado para a direção, preferindo dirigir “Footloose”, assim como Richard Attenborough, que considerou o projeto impossível.
Em 1986, Stigwood recebeu a visita de Madonna em seu escritório: a cantora, então conhecida por sua imagem provocante, surpreendeu ao aparecer em um vestido de época e um penteado dos anos 40 para professar seu interesse em interpretar Evita. Além disso, ela fez campanha para que Francis Ford Coppola dirigisse a produção. Stigwood ficou impressionado, dizendo que a cantora era “perfeita” para o papel.
Não era para ser – ainda. Em 1988, Oliver Stone foi confirmado como diretor e roteirista pela Weintraub Entertainment Group, que adquiriu os direitos da Paramount. Oliver Stone viajou para a Argentina, onde se encontrou com o então presidente Carlos Menem, que concordou em providenciar 50.000 figurantes e permitir a liberdade de expressão do filme. Madonna, novamente, se encontrou com o time por trás do filme: dessa vez, Oliver Stone e Andrew Lloyd Webber. As conversas não foram muito adiante: a estrela exigiu aprovação do roteiro e informou a Lloyd Webber que pretendia reescrever a trilha, o que causou seu veto imediato.
O holofote recaiu em Meryl Streep. A lendária atriz chegou a trabalhar em estúdio com o então diretor, Tim Rice e Andrew Lloyd Webber em gravações preliminares para o filme. De acordo com Stigwood, a atriz aprendeu toda a trilha em uma semana.

Com diretor, protagonista e estúdio, as filmagens estavam prontas para começar na Argentina em 1989, com orçamento de 29 milhões de dólares. O país, no entanto, passou por uma onda de protestos e saques, fazendo com que a equipe temesse pela segurança da equipe. O Brasil e o Chile chegaram a ser considerados até que a Espanha foi escolhida como palco da produção, elevando o orçamento para 35 milhões de dólares. Sem dinheiro em caixa após uma série de fracassos, a Weintraub Entertainment Group desistiu do projeto.
Resistente, o projeto foi imediatamente assumido pela Carolco Pictures, que iniciou negociações com os envolvidos. O agente de Meryl Streep causou dificuldades ao exigir a inclusão de uma cláusula pay-or-play: típico acordo em Hollywood onde o contratado é pago quer o trabalho seja executado ou não.
O preço da atriz continuou subindo, com um ultimato de 48 horas dado aos produtores. Para permanecer dentro do orçamento, todos desistiram de uma parte de seus salários para pagar a atriz, quando foram avisados de que ela havia desistido do projeto por “razões pessoais”. Furioso, Stigwood chegou a emitir um comunicado de imprensa avisando que a atriz havia desistido do papel, mas foi informado 10 dias depois que ela havia reconsiderado e estava disposta a participar.
A produção já havia se estendido por tempo demais para Oliver Stone, que, ao ser avisado que Meryl Streep estava de volta, simplesmente informou que não participaria mais da produção e que já havia dispensado os profissionais que trabalhavam na produção de sua visão de “Evita”.
Em 1990, a Disney adquiriu os direitos da adaptação cinematográfica, com Glenn Gordon Caron na direção, Madonna no papel principal ao lado de Antonio Banderas como Che. O estúdio, no entanto, desistiu do projeto quando o orçamento chegou em 30 milhões de dólares. Os direitos foram vendidos para a Cinergi Pictures, que recontratou Oliver Stone, mas novas discussões sobre o orçamento fizeram com que ele deixasse novamente o projeto.
De forma similar à história do espetáculo, o filme começou a se tornar realidade quando o primeiro diretor interessado assumiu a produção: em dezembro de 1994, Alan Parker foi contratado para escrever e dirigir a produção. Focando apenas no álbum conceito e ignorando elementos trazidos pelas produções no palco ou em roteiros anteriores, embora uma decisão de arbitragem do Sindicato de Roteiristas dos Estados Unidos tenha determinado que Oliver Stone fosse também creditado como roteirista.
Alan Parker decidiu manter Antonio Banderas, escolhido cinco anos antes, após assistir os “primeiros segundos” de sua audição gravada para diretores anteriores. Michelle Pfeiffer foi escalada para a protagonista em julho de 94, mas deixou a produção ao engravidar. Madonna, no entanto, não estava disposta a desistir: em dezembro, ela enviou uma carta manuscrita de quatro páginas ao diretor explicando os motivos de ser a melhor pessoa para interpretar Evita e incluiu uma cópia de seu clipe “Take a Bow” para “audicionar”.
Embora Andrew Lloyd Webber estivesse preocupado com o canto da estrela pop, Tim Rice estava convencido de que ela seria adequada ao papel, já que conseguia “atuar lindamente através da música”. Parker insistiu para que Madonna considerasse quem estaria no comando: ele. A cantora foi escalada e iniciou um acompanhamento com a famosa treinadora vocal Joan Lader para aprender a projetar a voz de maneira mais coesa e ter mais confiança nas canções. Mais tarde, Madonna declararia que “este foi o papel que nasci para interpretar. Coloquei tudo de mim pois era tão mais que um papel em um filme. (…) Estou mais orgulhosa de Evita do que de qualquer outra coisa que já fiz”.
Completando o trio protagonista, Jonathan Pryce foi escalado para Juan Perón, após uma única reunião com o diretor.
No filme, o diretor alega que procurou refletir a dicotomia da mulher cuja imagem era, ao mesmo tempo, de uma santa e de um diabo oportunista – o que se repetiu na recepção do musical, que foi criticado, ao mesmo tempo, por glorificar Eva e por se basear em “fofocas anti-peronistas”.
O novo roteiro incluía 146 mudanças nas composições, incluindo a necessidade de composição de uma nova música. Após muitos anos, o diretor conseguiu que Tim Rice e Andrew Lloyd Webber trabalhassem juntos na composição de “You Must Love Me”.
Com ajuda do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Alan Parker viajou até a Argentina para conversar com o presidente Carlos Menem e solicitar permissão para filmar na Casa Rosada. O presidente, ainda que descontente com a produção, garantiu liberdade de expressão ao novo time criativo e liberdade para filmar na Argentina, mas não na Casa Rosada. O diretor também foi advertido pelo presidente a se preparar para protestos contra a filmagem.
A gravação da trilha sonora aconteceu durante quatro meses, iniciando em outubro de 1995, em Londres. Inicialmente, Madonna cantaria juntamente com a orquestra, mas a primeira sessão de gravações foi um desastre, segundo o diretor. “Tive que cantar “Don’t Cry For Me Argentina” na frente de Andrew Lloyd Webber. Me senti uma bagunça e estava soluçando após, achei que tinha feito um péssimo trabalho”, lembra Madonna. “Estou acostumada a escrever minhas próprias músicas, ir ao estúdio, escolher os músicos e dizer o que soa bem e o que não. Trabalhar em 46 músicas sem poder dizer muita coisa foi um grande ajuste”.
A experiência fez com que a gravação fosse ajustada: enquanto os cantores trabalhariam em um estúdio, a orquestra trabalharia em outro.
A equipe foi recebida na Argentina com grafites gigantes e coloridos escritos “Fuera Madonna”. Alan Parker se lembra de ter comentado em voz alta como era simpático da parte dos argentinos recebê-los com tanto entusiasmo antes de ser avisado do real significado dos dizeres. A parede do lado de fora do hotel onde ele se hospedou também foi marcada com os dizeres “Morte a Alan Parker e sua Força Tarefa Inglesa” (apelido dado ao exército britânico durante a Guerra das Malvinas). Madonna também não deu muita confiança aos críticos (“mas estou certa de que todos viriam tomar chá se eu os convidasse”, escreveu em seus diários de filmagem.)
Até mesmo o governo argentino pensou em uma resposta à produção do filme: a cinebiografia “Eva Perón: The True Story”, foi lançada alegando corrigir as distorções históricas do musical. O filme foi o escolhido para representar a Argentina na corrida para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas não chegou a ser indicado.
As filmagens se iniciaram em 8 de fevereiro de 1996, com orçamento de 55 milhões de dólares. Durante o filme, Madonna vestiu 85 figurinos, 39 chapéus, 45 pares de sapatos e 56 pares de brincos, quebrando o recorde no Guiness de “Maior Número de Troca de Figurinos em um Filme”.
Pouco antes da produção deixar a Argentina, o presidente Menem requisitou uma reunião com Parker, Madonna, Pryce e Banderas, ocasião em que concedeu à produção a autorização para filmar na Casa Rosada, onde mais de 4.000 figurantes se reuniram por dois dias para a gravação de “Don’t Cry For Me Argentina” e do último discurso de Eva. Mais cenas foram gravadas em locações na Hungria e em estúdios na Inglaterra (onde uma réplica da Casa Rosada estava em construção, caso a produção não conseguisse a permissão do governo argentino para filmar na locação de verdade).

No intervalo entre as filmagens na Argentina e na Hungria, Madonna revelou ao diretor que estava grávida, fazendo com que todas as cenas em que ela dançava tivessem que ter reagendadas para o mais rápido possível.
Anos antes de “Les Misérables”, Madonna e Jonathan Pryce cantaram as canções “Your Little Body’s Slowly Breaking Down” e “Lament” ao vivo durante as gravações das cenas, devido ao seu teor emocional.
As gravações terminaram em 30 de maio de 1996, com o filme sendo lançado no Natal do mesmo ano. Com bilheteria total de 141.047.179 milhões de dólares, o filme recebeu recepção mista da crítica.
“Evita” foi indicado aos Oscars de Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Edição e Melhor Som, além de ter recebido a estatueta de Melhor Música Original por “You Must Love Me”.
NO BRASIL
“Evita” se destaca como um dos poucos musicais estrangeiros a terem três produções distintas no Brasil (um dos raros outros exemplos é “A Noviça Rebelde”): chegou ao Brasil em 12 de janeiro de 1983, enquanto ainda estava em cartaz em Londres, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, com temporada no Palace, em São Paulo, em 1986.
Com produção e versões de Victor Berbara, também responsável por produções brasileiras de musicais como “My Fair Lady” e “Alô Dolly”, a produção foi dirigida por Maurício Sherman. Para o papel principal, um jogo de cartas marcadas: a atriz argentina Valeria Lynch, que já havia interpretado o papel no México (onde também foi produzido por Berbara), estava nos planos do produtor, mas o diretor Maurício Sherman sugeriu a audição da cantora Cláudia (hoje conhecida como Claudya). Berbara, anos mais tarde, confessou uma certa má vontade, pois não queria se deslocar até São Paulo, mas acabou realizando o teste quando a cantora aceitou ir até o Rio de Janeiro – sendo aprovada.
Segundo a própria cantora, os produtores ingleses Robert Stigwood e David Land a deram o título de melhor Evita do mundo.
Além de Claudya, o espetáculo contava ainda com Carlos Augusto Strazzer como Che, Mauro Mendonça como Perón, Hilton Prado como Magaldi e Sylvia Massari como amante. A consagrada Vera do Canto e Mello, é creditada no programa como stand-in de Evita. A produção foi imortalizada com a gravação do elenco, ainda não disponibilizada em CD ou nas plataformas de streaming.
Em 2011, o musical retornou aos palcos brasileiros: com Paula Capovilla, Fred Silveira como Che e Daniel Boaventura como Perón, a produção teve direção geral de Jorge Takla.
Os direitos, adquiridos em 2007, deram início a uma longa pesquisa, que levou o diretor e os documentaristas Otavio Juliano e Luciana Ferraz ao Arquivo Geral de Buenos Aires, onde recolheram mais de três horas de imagens e mil fotos, que não apenas serviram de inspiração como também fizeram parte do cenário, composto por projeções.
A temporada inicial foi realizada no Teatro Alfa. Além do trio principal, a produção contava com nomes conhecidos como Bianca Tadini, Fabi Bang, Leo Wagner, Cidália Castro e Marcelo Vasquez.
Ao lado de Jorge Takla na direção geral, Tânia Nardini foi a diretora associada e coreógrafa da produção, com direção musical de Vânia Pajares, versão brasileira de Cláudio Botelho e Victor Mühlethaler, figurinos de Fábio Namatame e cenografia de Jorge Takla e Paulo Corrêa.
EVITA OPEN AIR
A produção de “Evita Open Air” fica a cargo do Atelier de Cultura, produtora responsável pelos sucessos “A Madrinha Embriagada”, “O Homem de La Mancha”, “Annie”, “Billy Elliot”, “Escola do Rock” e “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”.
O espetáculo, totalmente criado para o público brasileiro, traz a maior estrutura de teatro musical já montada no Brasil, com capacidade para 1.545 pessoas, incluindo um palco de 50 metros, além da experiência open air, formato inédito no país.
Myra Ruiz – Evita

Indicada ao Prêmio Bibi Ferreira após se consagrar no cenário musical brasileiro com sua interpretação de Elphaba em “Wicked”, Myra Ruiz já participou de espetáculos como “Mamma Mia!” e “Meu Destino é Ser Star”, “In The Heights”, onde deu vida a Nina, além de Saraghina em “Nine”, Oona em “Chaplin – O Musical”, Marta em “Company” e Maureen na produção mais recente de “Rent”.
Myra Ruiz também já se apresentou em três shows solo: “Depois Que a Cortina Fecha”, “MYRA” e “MYRA Vol II: Melancolia Eufórica”.
Fernando Marianno – Che

Ator, cantor, bailarino, diretor e cartomante, Fernando Marianno estreou nos palcos profissionalmente em “Miss Saigon”, já tendo passado pelos elencos de “Cats”, “Mamma Mia”, “A Família Addams”, “We Will Rock You”, “Ghost”, “O Homem de La Mancha”, “Billy Elliot”, “Hebe – O Musical”, “Zorro” e “Donna Summer”.
Cleto Baccic – Juan Perón

Vencedor do Prêmio APCA 2014 de Melhor Ator como Miguel de Cervantes (e Dom Quixote) em “O Homem de La Mancha”, Cleto Baccic também já se apresentou em papéis como Rum Tum Tugger na produção brasileira de “Cats” e Harry Bright, um dos três pais de Sophie em “Mamma Mia!”.
Em produções anteriores do Atelier de Cultura, Cleto já apareceu como o sedutor Aldolpho em “A Madrinha Embriagada”, o trambiqueiro Rooster Hannigan em “Annie”, “Escola do Rock”, como o nerd Ned Schneebly e “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate” como Willy Wonka.
Felipe Assis Brasil – Agustín Magaldi

Ator, cantor e publicitário, Felipe Assis Brasil já participou dos elencos da produção de 2019 de “O Fantasma da Ópera” e de “Cinderella de Rodgers e Hammerstein”, além da versão filmada do espetáculo “Cabaret dos Bichos”, como o antagonista Napoleão.
Verônica Goeldi – Amante

Semifinalista do programa “Cultura, O Musical”, Verônica participou da montagem brasileira de “Heathers – O Musical” como Heather Duke e do espetáculo “Silvio Santos Vem Aí”. Além de seu trabalho nos palcos, pode ser vista na série “Home Office”, disponível na Amazon Prime.



As pequenas Anna Beatriz Simões (“Bom Dia Sem Companhia”), Belle Rodrigues (da produção da Cia Tearte de “Sítio do Picapau Amarelo”) e Isa Camargo (“Janela de Isabela”) revezam o papel da criança, que permeia todo o espetáculo.
O ensemble masculino conta com Alicio Zimmermann (“Noite de Patroa”), Bruno Ospedal (“Barnum, O Rei do Show”), Della (“Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”), Gui Leal (“Sweeney Todd, o Cruel Barbeiro da Rua Fleet”), Marco Azevedo (“Billy Elliot”) Paulo Grossi (“O Fantasma da Ópera”), Rafael Barbosa (“Barnum, O Rei do Show”), Sandro Conte (“Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”) e Vinicius Cafer (“A Hora da Estrela – O Musical”).
Já no ensemble feminino, Amanda Doring (“Brilha la Luna”), Bia Castro (“Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”), Cláudia Rosa (“Chaplin, O Musical”), Éri Correia (“Paralamas em Cena”), Fernanda Biancamano (“Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”), Fernanda Muniz (“O Fantasma da Ópera”), Gigi Debei (“Silvio Santos Vem Aí”), Ingrid Sanchez (“Heathers”) e Mari Rosinski (“Chicago – O Musical”).


“Evita Open Air” conta ainda com Alice Zamur (“O Homem de La Mancha”) e Danilo Martho (“Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”) como os swings da produção.
O TIME CRIATIVO
John Stefaniuk – Direção geral
Canadense, o diretor faz sua primeira produção de “Evita” (que confessou também ter sido o primeiro espetáculo assistido por ele). Foi diretor residente de “Hey Mr. Producer!”, show que homenageava a carreira de Cameron Mackintosh.
Já dirigiu episódios de “Dancing With the Stars” e edições do Tony Awards, além de ter participado de mais de dez produções de “O Rei Leão” como diretor associado.
No Brasil, foi o responsável pelas produções do Atelier de Cultura de “Billy Elliot” e de “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”.
Floriano Nogueira – Coreografia e direção associada
Além de ter participado das montagens brasileiras de “A Madrinha Embriagada”, “O Homem de la Mancha”, “Annie”, “Billy Elliot”, “Escola do Rock” e “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate” como diretor associado e residente, Floriano Nogueira foi também supervisor coreográfico da montagem de 2009 de “A Bela e a Fera”, além de diretor residente de “Cats” e “Mamma Mia!”.
Em “Ghost – O Musical”, Floriano foi o diretor residente e coreógrafo da produção.
Vânia Pajares – Direção musical e regência
Com longa carreira nos musicais, Vânia Pajares já foi diretora musical da produção de 2007 de “My Fair Lady”, “West Side Story”, “O Rei e Eu”, “A Família Addams”, “O Rei Leão”, “Jesus Cristo Superstar”, “Mudança de Hábito”, “Wicked”, “Tudo é Jazz” e “A Pequena Sereia”.
Também foi pianista correpetidora no Teatro Municipal de São Paulo por 13 anos, além de ter sido a diretora musical da produção brasileira de 2011 de “Evita”, realizada no Teatro Alfa.
Victor Mühlethaler – Versão brasileira
Vencedor do prêmio Bibi Ferreira de Melhor Versão por “Cantando na Chuva” (ao lado de Mariana Elisabetsky), Victor foi co-versionista da produção brasileira de 2011 de “Evita”.
Já realizou trabalhos como “In the Heights” e, com Mariana Elisabetsky, foi o responsável por versionar “Wicked”, “A Pequena Sereia”, “Billy Elliot”, “Sunset Boulevard” e “Escola do Rock”.
+ OPINIÃO: “Evita Open Air” apresenta o apogeu de Myra Ruiz

“Evita Open Air” estreou no Parque Villa-Lobos em 07 de julho de 2022 e segue em curta temporada até o dia 28 de agosto.
Preços:
Plateia VIP: R$ 300 (inteira) / R$ 150 (meia-entrada)
Plateia Premium – R$ 270 (inteira) / R$ 135 (meia-entrada)
Plateia Gold – R$ 230 (inteira) / R$ 115 (meia-entrada)
Plateia Silver – R$ 50 (inteira) / R$ 25 (meia-entrada)
Vendas:
Inti: bit.ly/EvitaMDM
Bilheterias oficiais (sem taxa de conveniência):
Parque Villa-Lobos (próximo à Roda Gigante): Av. Queiroz Filho, 1365 – Alto de Pinheiros – São Paulo – SP – 05319-000
Quinta e sexta-feira das 16h às 20h. Sábados e domingos das 12h às 20h. Segundas, terças e quartas-feira, fechado.
Instituto Artium de Cultura: Rua Piauí, 874 – Higienópolis – São Paulo – SP – 01241-000
Quarta a sexta-feira, das 12h às 18h. Sábados e domingos, das 10h às 18h. Segundas-feiras, terças-feiras e feriados, fechado.
Como chegar:
Endereço: “Evita Open Air” se apresenta no Parque Villa-Lobos, entrada pelo portão Cândido Portinari. Endereço: Av. Queiroz Filho, 1365 – Alto de Pinheiros – São Paulo – SP – 05319-000
Estacionamento: O parque possui estacionamento próprio.
Transporte público: A estação Jaguaré da CPTM (Linha 9 – Esmeralda) é a mais próxima e conta com passarela com acesso direto para o parque.
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